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Os primeiros navegadores que lançaram ferro nas águas fundas e tranquilas da Baia das Ribeiras à volta de 1460 cedo descobriram também o curso revolto das ribeiras que se despenhava da montanha, sobre o Norte, riscando de espuma o Território virgem que se alongava, manso, em tabuleiro, sobre o mar.

Os primeiros povoadores que se fixaram viram que seu destino se cumpriria entre a terra e o mar, beberam da agua das ribeiras e com ela baptizaram a terra que tomou das mesmas o nome.

Uns construíram barcos e fizeram-se de novo ao mar.  Primeiro junto a costa, depois em alto mar.  Regressavam a casa ao fim do dia ou da noite para matar a fome dos filhos e da mulher.  E milagre era esta heroicidade, tão grande como o mistério daquelas ondas que numa noite antiga carregaram um madeiro com um Cristo pregado e o depositaram, como oferenda, na pedra mágica que se resguarda no fim da igreja e se chama do Senhor Jesus.  E assim esta terra se chamou Santa Cruz.  Que ainda vive do mar, saudosa, na memoria, dos iates de longo curso, da caça à baleia, na faina do atum, das aventuras dos lobos do mar contadas como lenda.

Outros povoadores lavraram campos, semearam milho, construíram moinhos na ribeira cujas águas bebiam eles e os gados e onde as mulheres lavavam roupa de uso comum e as teias que faziam.

Levantaram uma capela a Nossa Senhora do Socorro, tão carecidas de ajuda estavam suas vidas, mas depois levantaram a igreja matriz em honra de Santa Barbara que emprestou o nome à comunidade depressa organizada como paróquia.

O mar e a terra tornaram-se propícios ainda que esta as vezes estremecesse e aquele se revoltasse, mas os homens ficaram e multiplicaram-se.  E outras comunidades subiram a montanha pela Cruz ate ao Arrife alargando-se para o Oriente pelo Caminho de Cima ou pelo Caminho de Baixo ate Pontas Negras, Ribeira Seca, Ribeira Grande.

Quando mal cabiam na terra procuraram, como emigrantes, outros rumos.  Mais a América, sempre metáfora de paraíso, a Ocidente, pátria segunda de tantos filhos das Ribeiras onde viver continua a ser epopeia, entre a terra e o mar.